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O Círculo Eça de Queiroz promoveu no passado dia 26 de Janeiro, um Jantar de homenagem ao novo Sócio Honorário, Eduardo Lourenço, que proferiu uma palestra, após ser apresentado por Guilherme d’Oliveira Martins.
Na sua dissertação, Eduardo Lourenço falou de Eça. Da obra e do escritor. E fê-lo com uma erudição própria de quem não se considerando um queirosiano, por excesso de modéstia, domina como poucos a policromia da sua escrita romanesca, dos personagens às atmosferas que os contextualizam, de uma forma única na literatura portuguesa.
Eduardo Lourenço, com uma vasta carreira de professor e ensaísta, foi um poeta da palavra, esculpindo com uma simplicidade e uma fluência desarmantes, o essencial da escrita ficcional de Eça, que mantém hoje uma frescura e actualidade surpreendentes sobre a forma de estar e de ser português.
Eduardo Lourenço é um dos mais notáveis pensadores portugueses, recentemente distinguido com o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural. Recebeu, também, o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Pessoa em 2008, entre outros galardões que marcam uma carreira invulgar, como homem de Cultura e académico. Concluiu em 1946 o curso de Ciências Histórico-Filosóficas, apresentando uma tese sobre "O Sentido da Dialéctica no Idealismo Absoluto", posteriormente editada.
Em 1949, Eduardo Lourenço partiu para França, a convite do Reitor da Faculté de Lettres da Universidade de Bordéus, com uma Bolsa de Estágio da Fundação Fulbright.
A partir de 1953, iniciou uma carreira académica que o levaria a várias reputadas Universidades Europeias, entre as quais as de Hamburgo, Montpellier, Heidelberg, Grenoble, Nice, entre outras. Já em 1965, fixou residência em Vence.
Coube a Guilherme d’Oliveira Martins apresentar o nosso Homenageado. «Celebrar – disse - é pôr em comum o que desejamos partilhar e com Eduardo Lourenço é a força da palavra, das ideias, da fecundidade do pensamento que desejamos enaltecer”.
Guilherme d’Oliveira Martins citou Montaingne e, a propósito, qualificou a obra do nosso Homenageado como fascinante, “uma vez que procura sempre pôr-se no outro lado, assumindo individualmente a missão, que aprendeu do já citado Montaigne, de partir do eu, do incómodo eu, para o outro. E um heterodoxo lúcido é quem procura mais luz, para poder perceber as diferenças, as particularidades e a universalidade do ser”.
Eduardo Lourenço, realçou, “é um cultor de paradoxos, ciente de que a cultura se enriquece pela capacidade de ver o mundo do avesso e de olhar para além das aparências”.
Amigo e admirador confesso do Homenageado, desde longa data, Guilherme d’Oliveira Martins considera que Eduardo Lourenço “é hoje uma das consciências culturais, morais e cívicas da Europa contemporânea, ao lado de Edgar Morin, de Claudio Magris ou de Jürgen Habermas. E é com sereno orgulho que o consideramos como consciência crítica da cultura portuguesa na linha de Herculano e de Antero. Não há outra homenagem que possamos fazer”.
Num serão inesquecível, Guilherme d’Oliveira Martins traçou a biografia de Eduardo Lourenço nos seus passos fundamentais, e citou a sua obra com um conhecimento profundo.
Habilitou-nos, afinal, com um retracto de corpo inteiro, intimista e culto, sobre uma das personalidades portuguesas mais notáveis do pensamento, que fez a travessia de dois séculos com uma coerência e uma lucidez que nos deixam rendidos. E nos ensinam.
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